Eu não fui à Paris. Nem à Nova Iorque, a qual eu sempre
sonhei conhecer e nem à Ibiza, aonde eu sempre jurei que iria curtir as
melhores noites de farra da minha vida.
Eu não fiz intercâmbio, nem mochilão pela Europa, apesar de
ter planejado pelo menos uns três.
Eu não conheço Dubai, nem Abu Dhabi e nem todas as
maravilhas da Ásia. Até meu pai já foi pra China e eu fui no máximo ao
Paraguai, e ainda fui por sorte. Fui realizar um trabalho com uma peça de
teatro em Cascavel e o elenco resolveu ir pro Paraguai no dia de folga, daí
aproveitei e fui junto. Senão, provavelmente o máximo de pirataria que eu
conheceria do mundo seria a da Rua 25 de março, em São Paulo.
Esses dias eu estava pensando e percebi que tem muita coisa
que eu não fiz, e muitos lugares que eu não conheci e que nem sei mais se algum
dia vou conhecer. Me deu cinco minutos de depressão pensar sobre isso, mas, ao
mesmo tempo que vinham à minha mente todos os lugares que eu não conheci e as
experiências que eu não vivi por conta disso,
vinham também todos os lugares que eu conheci e as experiências que eu
vivi por conta deles.
Eu conheci com os meus pais as ilhas de St. Maarten e St.
Martin numa época em que todos iam para Cancun, mas meu pai não podia pagar uma
viagem pra lá. E querendo levar a família de qualquer jeito pra uma viagem
internacional numa ilha no Caribe, acabou optando por uma opção mais em conta e
nada popular na época. Eu acabei conhecendo uma parte do Caribe muito mais
maravilhosa que Cancun ( aonde conseguimos ir anos depois ) antes que todo
mundo que hoje vai pra lá e acha que descobriu a América. Eu fiquei hospedada
no hotel ao lado do Aeroporto de St. Maarten e, muito antes do Youtube, eu vi
ao vivo as decolagens e pousos dos aviões em uma das pistas mais perigosas do
mundo.
Eu comecei a morar sozinha em uma fase tensa da minha vida,
quando eu tinha acabado de terminar um relacionamento sério e não sabia se
queria ser atriz ou professora de Educação Física. E por conta disso, eu
visitei locais da minha mente que muita gente precisa de anos de terapia pra
conseguir atingir, e tive que trabalhar com cada pontinho novo visitado
sozinha, com uma taça de vinho e um papel e caneta. Não tinha grana pra
esquecer os problemas e passar férias em Bahamas e por isso eu gastava meu tempo livre me auto conhecendo e me tornando
mais madura do que qualquer amigo meu possa imaginar que eu realmente sou.
Isso porque nessa época eu não fiz o mochilão e nem fui
assistir a todos os musicais da Broadway, mas eu conheci a noite paulistana, e
essa meu caro, vale mais do que qualquer volta ao mundo. Eu conheci a balada
eletrônica, a hip hop, o pagode, o boteco, o flash back, o café cult, a rave, o
churras da galera que virou a noite, o esquenta que virou balada, a balada que
virou três baladas, o after da balada, a padaria chique pra tomar café da manhã
depois na night, a salgaderia fuleira e mais gostosa da cidade na época que ela
era fuleira e gostosa pra comer um salgado bem gordo e baratinho depois da
noitada, a barraca de hot dog, a temakeria 24 horas e é claro, por último, mas
jamais menos importante, eu conheci a galera da noite paulistana. E foram
nesses lugares, com essas pessoas, que eu vivi as experiências mais incríveis
da minha vida, que muita gente tem que ir pra Irlanda em um intercâmbio pra
viver as mesmas coisas. Eu vivi na minha cidade natal, com todo mundo me
conhecendo e podendo me julgar, com minha família por perto fazendo bico e meus
amigos achando que me conheciam a ponto de traçar toda a trajetória da minha
vida em suas mentes em fração de segundos, concluindo que: A Babi vai ser
baladeira a vida toda!
Cada calo no meu pé, cada ressaca, cada casinho mal
resolvido e VIP no camarote que eu conseguia me ensinava como ser mais forte,
mais maliciosa, menos ingênua, mais esperta, menos romântica burra, mais
responsável, menos crítica comigo mesma, mais carinhosa comigo mesma, mais
paciente com a ignorância do outro, menos preocupada com a opinião alheia, mais
completa e mais madura, num sentido de maturidade que eu acredito que só duas amigas
minhas me entenderiam: uma que já viveu em Boston, Ibiza, China e México; e a
outra que já morou em tantos países em tão pouco tempo, que eu já nem lembro mais
aonde exatamente ela viveu.
Eu vivi e conheci o que eu precisava pra me tornar quem eu
gostaria de ser e quem hoje eu sou. Eu não conheci a Disney, mas conheci o amor
da minha vida e nem sei se algum dia eu vou à Paris, mas vou ser mãe antes dos
30, como eu sempre quis. Não me tornei atriz, mas vou ter um mini galã, meu
primeiro filho vai ser um menino, como eu sempre sonhei.
Eu sobrevivi a cada cidade no mundo que eu deixei de
visitar, mas eu garanto que não estaria aqui com o conhecimento sobre mim mesma
e sobre a vida se não fosse cada maço de cigarro que eu fumei e cada garrafa de
champagne que eu bebi.
Portanto, o que hoje eu deixo de mensagem pra você não
refletir é: viva cada fase da sua vida no tempo em que deve ser vivido, sem
importar aonde. Não importa se você é um turista de carteirinha Gold, importa o
quanto você é capaz de absorver de cada experiência vivida no seu dia-a-dia.
Viajar sim, mas viver é muito melhor!
Beijinho no ombro e bon voyage!!